Cineasta, argumentista, actor e músico nascido em Akron no Ohio, Jim Jarmusch é o representante supremo e derradeiro do “cinema independente americano”. A qualidade única dos seus filmes advém da alquimia elegante e perfeita entre aquilo que convoca de ‘clássico’ e de ‘moderno’, de um passado e de um presente (do cinema, da literatura, da música e da cultura em geral), da América (para a qual Jarmusch olha com um olhar de estrangeiro, “um estrangeiro benigno e fascinado”, nas palavras de Tom Waits) e do mundo.


Após um período formativo extremamente rico – fez estudos de literatura, integrou o movimento de cultura alternativa da ‘downtown’ novaiorquina dos anos 1970 (sobretudo a sua seminal cena musical), desenvolveu uma abrangente cultura cinéfila (descobriu o cinema de forma apaixonada na Cinemateca Francesa de Henri Langlois, foi aluno do realizador de Hollywood Laslo Benedek na escola de cinema da Tisch School of the Arts, em Nova Iorque, e assistente de Nicholas Ray em Lightning Over Water de Wim Wenders) – Jim Jarmusch construiu um universo fílmico ímpar, absorvendo e cruzando referências, métodos e géneros (o road movie, o western ou o filme de vampiros convocados sobretudo como tonalidades), pautando o seu cinema por uma respiração poética e musical (e pela regra de ouro ‘menos é mais’).


Do semi-autobiográfico filme de fim-de-curso Permanent Vacation/Sempre em Férias (1980) e de uma das mais marcantes e influentes primeiras obras de sempre, Stranger Than Paradise/Para Além do Paraíso (1984, vencedora da Caméra d’Or em Cannes), passando por esses inolvidáveis filmes-trip que são Dead Man/Homem Morto (1995) e Only Lovers Left Alive/Só os Amantes Sobrevivem (2013), até ao par de obras de 2016, Paterson e Gimme Danger (documentário sobre o rock’n’roll proto-punk de Iggy Pop e dos seus Stooges), o tempo e o ritmo do cinema de Jarmusch são os do blues e do jazz. Os seus filmes fazem-se de silêncios e pequenos detalhes, de estruturas narrativas esparsas, de ambientes melancólicos e, acima de tudo, de um amor e humor muito ternos por personagens apanhadas ‘em trânsito’ (físico, emocional ou mental) nas suas vidas.


A autenticidade e independência da postura artística de Jim Jarmusch marcam um percurso de 36 anos e mantêm-se incólumes. O realizador será um dos convidados do Lisbon & Estoril Film Festival, onde apresentará os seus mais recentes filmes, Gimme Danger e Paterson.