O Simpósio Internacional realiza-se nos dias 13, 14 e 15 de Novembro
  • Ciclos temáticos

Há muito que a relação entre “loucura e criação” suscita curiosidade. Tradicionalmente abordada de modo demasiado geral, o interesse pela questão foi recentemente renovado por vários trabalhos no campo da psiquiatria e das neurociências. Sabe-se hoje que grandes obras, grandes invenções de artistas e pensadores nasceram depois de traumas profundos. No entanto, poucos estudos marcantes foram produzidos. Lacuna que vem não só da dificuldade em definir noções essenciais (tais como “patologia” e “criação”), mas também em articular domínios do saber aparentemente irredutíveis (como psiquiatria e estética). O Simpósio “BIGGER THAN LIFE” visa sondar e explorar essas dificuldades, contribuindo para uma abordagem mais rigorosa e precisa destas questões – tão importantes para a crítica e pensamento da arte.


Trata-se de pôr em evidência a complexidade dos problemas e a sua relevância para a compreensão, em particular, do processo criativo. Através da apresentação de casos, isto é de obras e autores (como um Van Gogh ou um Artaud), de múltiplos domínios artísticos, procurar-se-á formular problemas precisos. Um painel será assim consagrado ao exame dos mecanismos e acontecimentos que atravessam a diversidade dos processos de criação. Porque é que tantos artistas sentem uma espécie de atracção necessária pelo caos? De que caos se trata, exactamente – em tal obra, literária, pictórica ou coreográfica. Eis o tipo de questões que se podem levantar.     


Acreditamos que o tema indicado pelo título do Simpósio não restringe o debate à relação psicose/criação, mas antes o abre a todo o género de invenção artística. Aqui, nascem outros problemas, à volta da legitimidade da extensão dos processos patológicos à esfera dita da “normalidade”. A este respeito, até que ponto o juízo da opinião pública (ou do espectador) contribui para que tal obra seja declarada “absurda” ou “sem sentido”, quer dizer “louca”, num dado momento e ser aceite e integrada num outro, a ponto de reforçar a ordem estabelecida?     


Enfim, que ponto de vista se adopta quando se abordam estas questões? A psiquiatria, a psicanálise ou as neurociências poderão dar conta do trabalho estético? É o complexo de Édipo que ilumina as tragédias de Sófocles ou estas que permitem compreender o sentido do complexo? E o mesmo para as neurociências.     


O Simpósio abre o terreno à comunicação e debate sobre todos estes temas, organizando painéis correspondentes. O objectivo é suscitar maior interesse por uma velha questão, tão antiga e negligenciada, mostrando a sua actualidade e pertinência num tempo em que a proliferação geral dos traumas acompanha a “dificuldade da arte”.


José Gil
[Filósofo e escritor. Curador do Simpósio “Bigger than Life”]