O trabalho cinematográfico de Jonathan Demme (1944, EUA) habita espaços diversos. Por um lado, Hollywood, com a sua procura frenética de sucesso. Por outro, lugares menos “centrais”, onde vai buscar material para produções independentes, que vai gerindo na sua “sede” em Nova Iorque – a Clinica Estetico. Na sua obra incluem-se ficção, documentário, mas também trabalhos para televisão, videoclipes, filmes publicitários para organizações de cariz político.


O gosto de Demme pelo cinema levou-o, ainda jovem, a escrever críticas para o jornal da universidade onde estudava medicina veterinária e um produtor amigo do seu pai deu-lhe o primeiro emprego na indústria cinematográfica. Começou como publicist, escreveu guiões e produziu filmes. Trabalhou com Roger Corman, realizador e produtor ligado aos chamados “exploitation films”.


Em 1974, dirigiu o seu primeiro filme, Caged Heat. Seis anos e algumas longas-metragens depois, Melvin and Howard (1980) torná-lo-ia, finalmente, conhecido. O New York Film Critics Circle nomeou-o Melhor Filme do Ano.


Seria o interesse pela música (Demme também fez crítica musical) a levá-lo a criar aquele que foi um inesperado sucesso (junto da crítica e do público): Stop Making Sense (1984), o filme de um concerto dos Talking Heads. Este é ainda hoje uma das grandes referências dos filmes-concerto, pela forma de inovação que constituiu: em vez de se debruçar sobre tudo o que rodeia o concerto, Demme centrou-se propriamente nele, enfoque que se torna característico nos outros filmes que fez dentro deste género. A sua veia musical persistirá: Demme fez videoclipes de artistas como Bruce Springsteen e Neil Young e da relação com este último nasceram os documentários Neil Young: Heart of Gold (2006), Neil Young Trunk Show (2009) e o mais recente Neil Young Journeys (2011).


Em 1991, The Silence of the Lambs dar-lhe-ia o seu primeiro (e único) Óscar – o de Melhor Filme – que veio aliás bem acompanhado: o filme ganhou o Óscar de Melhor Argumento adaptado, e Jodie Foster e Anthony Hopkins o Óscar de Melhor Actriz e Melhor Actor, respectivamente. Seguiu-se Philadelphia (1993), uma das primeiras ficções sobre o drama da SIDA e algum tempo depois Beloved (1998). O seu filme The truth about Charlie (2002) um remake do filme de Stanley Donen, Charade, evoca a tradição de um certo cinema francês, tal como Handle With Care (Citizen’s Band, 1977) e Melvin and Howard haviam feito.


Nos últimos anos dedicou-se sobretudo à televisão e ao documentário. A par disso realizou também as ficções Rachel Getting Married (2008), um drama com Anne Hathaway e Debra Winger, e uma adaptação de Henry Ibsen, A Master Builder (2013).


O seu novo filme, Ricki and Flash (2015), é protagonizado por Meryl Streep e teve estreia recente em Portugal. Demme regressou também aos filmes-concerto. Desta vez o protagonista é Justin Timberlake, e o cenário o último espectáculo da digressão do cantor.


Com mais de cinco dezenas de títulos (realizados ou produzidos), Jonathan Demme é um dos incontornáveis do cinema americano das últimas décadas.