Encenadora e Actriz

Mónica Calle fundou a companhia de teatro Casa Conveniente em 1992. Virgem Doida, um “monólogo-striptease” feito a partir de Rimbaud, foi o manifesto fundador que firmou a premissa de um teatro despojado e assente na palavra, na proximidade, na partilha. Prossegue a sua reflexão sobre as estéticas de recepção, de que foram paradigmáticos Rua de Sentido Único (2003) e Lar Doce Lar (2006), monólogos para dois, e um espectador, respectivamente.


Mantendo a palavra como ponto de partida de toda a construção imagética e cénica, Mónica Calle abordou autores como Peter Handke, Thomas Bernhard, Beckett, Pirandello, Tchékhov e Strindberg. Por Recordações de uma Revolução, no âmbito do Ciclo Heiner Müller, recebeu o Prémio Autores 2012 SPA/RTP na categoria “Teatro – Melhor Espectáculo”. Paralelamente, desenvolveu um projecto de formação de actores em meio prisional, tendo produzido dois espectáculos com o grupo de teatro do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus.


Como actriz, participou em diversas longas e curtas-metragens, nomeadamente Casa de Lava (1994) de Pedro Costa, Fado Majeur et Mineur (1994) de Raúl Ruiz, A Costa dos Murmúrios (2004), de Margarida Cardoso, O Filme do Desassossego (2010), de João Botelho e Cinzento e Negro (2015), de Luís Filipe Rocha.


Em 2014, a companhia migra do Cais do Sodré para a Zona J de Chelas através de uma digressão de espectáculos pela cidade de Lisboa, a partir de A Boa Alma de Setsuan e Os Sete Pecados Mortais dos Pequenos Burgueses de Brecht. No ano seguinte, alia-se à associação Filho Único na criação do “Zona Não Vigiada”, um festival de música que visou criar novos públicos e dinamizar a periferia da cidade.


No verão passado, estreou Rifar o Meu Coração, um “workshop-espectáculo” que, de Chelas, seguiu viagem para o Porto e para o Alentejo. Desafiando os esquemas convencionais de circulação, a peça envolvia uma semana de ensaios com a população de cada localidade e outra de apresentações públicas gratuitas.


Foi a síntese desse ano de pesquisa “radicalmente site-specific” que Mónica Calle apresentou em Março deste ano no Teatro Nacional D. Maria II no espectáculo Ensaio para uma Cartografia, e cuja versão actualizada apresentará nesta edição do Lisbon & Sintra Film Festival.